Seja apenas um
Vocês sabem qual é a principal imagem que a Igreja cristã de hoje passa para o mundo? Amor? Perdão? Ajuda? Não. Hipocrisia seria a palavra certa. Salvo algumas comunidades que realmente conseguem viver o amor ensinado por Cristo, a igreja em geral é conhecida por falar uma coisa que não pratica.
Nós, da igreja sabemos que infelizmente isso é verdade. A ironia é que quando Cristo viveu entre nós e esteve entre sua igreja, o que ele mais combateu foi hipocrisia também. “Sepulcro caiado” (Mateus 23:27) é uma expressão de Cristo que até hoje conhecemos para se referir a algo bonito por fora mas podre por dentro.
Estamos cercados de pessoas as quais percebemos nitidamente um ar de falsidade, de “forçação” de barra. Olhamos para elas e vemos que tem algo estranho. É como se tivessem encenando. A hipocrisia não é difícil de ser percebida.
Uma vez estava em minha igreja quando o pastor começou a orar. Eu tentei acompanhar a oração, mas tudo o que eu escutava era um sujeito ao meu lado orando alto. Era nítida sua busca por palavras rebuscadas e frases de efeito. Parecia um discurso de político feito para o próprio Deus. Tem oração que conforta, mas essa me incomodava. Eu sentia em meu espírito o repúdio àquela falsidade.
Muitos crentes vivem atuando. Na verdade estão carregando um peso que os farão se cansar mais tarde. Já vi muitos freqüentadores de igreja fervorosos que depois de um tempo largaram toda sua fé. Penso eu que muitos desses viviam atuando uma fé que não tinham e se cansaram. Lançaram-se em um fanatismo que ia além da razão e da sensatez. Viam-se fazendo coisas mais para impressionar os outros do que para, realmente construir algo para o reino de Deus.
O pior é que muitos de nós, de certa forma, atuamos de vez em quando. Fingimos não carregar alguns pecados que só Deus sabe que temos. “Afinal”, pensamos, “se , principalmente, um descrente descobrir que pratico os mesmos pecados que ele, como vou ser capaz de dizer que o Espírito Santo nos transforma?”. Escondemos algumas condutas praticando-as em escondido, mas na frente dos outros tentamos ser alguém que não somos.
O que não percebemos é que, geralmente, as pessoas são capazes de perceber nossa falsidade. Não conseguimos esconder tudo por muito tempo. Outro ponto é que muitos descrentes, na verdade, se aproximariam mais da igreja se percebessem que também somos seres humanos com falhas iguais a eles. A transformação que o Espírito Santo opera em nós é muito mais lentamente que gostaríamos. Principalmente quando não somos sinceros em reconhecer os nossos defeitos. Fingir sermos melhores que as pessoas do mundo (como os crentes chamam quem está fora da igreja) apenas afasta elas de nosso meio.
Seja você mesmo. Lute para ser uma pessoa melhor mas não finja ser o que você não é. Admitir fraquezas não afasta ninguém de Deus, mas falsidade sim. Admitir fraquezas, na verdade, pode até aproximar pessoas. Elas se identificam e querem se juntar a você na luta para passar pelas barreiras que são necessárias.
Admitir nossas fraquezas muitas vezes é uma coisa que precisamos antes fazer para nós mesmos. Precisamos enxergar nossas imperfeições para podermos ser mais misericordiosos e termos mais compaixão das pessoas. À medida que abrimos nosso olhos para tudo o que fazemos de errado, temos obrigação de perdoar também os problemas dos outros.
Concluindo, uma das coisas que precisamos mais na igreja de hoje é a sinceridade. Fico imaginando a força que a da igreja teria se ela admitisse ser mais fraca.
Tiago Roffé